A book of books
“Uma experiência primária sobre o paradoxo performativo na (re)construção de outras narrativas poéticas, perto da fronteira do plágio formal.”
Na linguagem, a palavra, coisa que se compõe de duas partes e se apresenta para se voltar a dividir. Aqui o texto é trabalhado de uma maneira apalavrada numa conquista rápida e de preferência intuitiva, sobre o virar da página. Não pretende ser mais do que um (r)escrever do que lá está, mas não se encontra perceptível, trabalho intuitivo que se apresenta sobre as possibilidades dele próprio, num infinito de variáveis de acção.
“A escrita é um lugar neutro, onde vai parar o nosso sujeito, o branco e o negro onde se acaba por perder toda a identidade, começando pela própria identidade do corpo que escreve.” Barthes (1987), La muerte del autor, p. 65.
Sobre o conteúdo, uma espécie de Dadaísmo conotativo, poesia livre, espaço de encontros e desencontros no deambular processual da procura dele próprio.
Na metodologia três paradigmas: o primeiro pressupõe a rapidez da escrita automática, onde o pensamento tem que corresponder ao desígnio instantâneo da narrativa crescente; no segundo a tangente ao plágio, assim entendido: só são retirados no máximo três elementos de cada página, e nesse sentido o que se define não passa de um plano de acção tangente a uma tridimensionalida-de, mas ainda aquém do corpo que corrompe o autor; no terceiro o critério impreterível de (re)tirar elementos (palavras) de todas as páginas desde a capa à contra capa.
O fim é incerto mas abrangente, provavelmente acabará em poesia Haiku onde a analogia e a própria metáfora já não estão mais inscritas, criando assim lugar a mais uma outra percepção do trabalho possível sobre a visibilidade da linguagem e a sua construção.
Neste projecto e através da linguagem pretendo levantar questões sobre as infinitas possibilidades de produção de texto poético, assente em poesia escrita, mantendo o limiar do plágio como fronteira.
A ideia é a de no processo performativo encontrar intuitivamente, através da escrita novos caminhos poéticos em algo (livro) que nos parece encerrado a nível formal, mas que a nível da ideia se encontra sempre aberto, susceptível de ser reformulado construído ou reescrito, sem que esse processo possa ser considerado abusivo perante o autor, muito embora possa ser ao mesmo tempo um trabalho de limite sobre a obra na qual se trabalha.
Porque a ideia de plágio? A ideia de plágio aparece pela simples razão de que temos necessidade de proteger a propriedade intelectual, e qual é essa propriedade intellectual, senão a construção de um ponto de vista diferente das mesmas sensibilidades do mundo que percepcionamos. Não entendo a ideia como algo encerrado em nós próprios, mas como algo que dependendo da nossa capacidade (a)perceptiva possamos captar do consciente e do inconsciente colectivo que somos todos, e nesse sentido parece-me não haver prevaricamento intelectual algum em relação aos outros, pois esses outros somos nós também. Tudo mais uma vez se encerra na questão que intitulamos de forma, ou da ideia que temos dela, ou melhor ainda da percepção que temos do mundo formal. Claro está que a um nível mais subtil não existe forma alguma senão um emaranhado de possibilidades a definir pela observação da consciência a que chamamos “eu”. São os sentidos base e muito especialmente a visão que nos dão muito claramente a definição de erro entre o aparente e a realidade, entre o visível e o invisível, que nós construímos do todo.
A ideia de plágio está presente em todos os parâmetros da sociedade, no sentido de ser através das suas leis operantes que se constrói esse ponto de semelhança entre todos aquando do seu interesse em controlar. Por outro lado ao nível intelectual a realidade muda completamente de figura, fechando o circuito à volta do autor, como se de um casulo hermeticamente fechado se tratasse essa, a ideia de mental de separado.
Criar analogias entre a realidade do discurso poético coerente e o discurso (des)construído do “A book of books” como uma aproximação a uma meta linguagem própria, onde o significado é um encontro estético do observador com ele próprio.
“O discurso nada mais é do que a reverberação de uma verdade em vias de nascer diante dos seus próprios olhos; e, quando tudo pode, por fim, tomar a forma do discurso, quando tudo pode ser dito e o discurso pode dizer-se a propósito de tudo, é porque todas as coisas, tendo manifestado e trocado o seu sentido, podem regressar à interioridade silenciosa da consciência de si.” Foucault (1997), A ordem do discurso, p. 37.
Aqui na poesia, é o lugar predilecto para a logofilia onde existe espaço para a libertação do discurso de seus constrangimen-tos formais.