I LOVE YOU II
‘I LOVE YOU II’ pretende relacionar o lado conhecido e o lado desconhecido da expressão amar, e como a mesma poderá ser transmitida por nós e pelos outros, de nós e para os outros.
Letra a letra o desenho expressa-se como um caminho que é visível nas entrelinhas das palavras, presente após presente numa dinámica onde o visível é de uma outra ordem, revela um outro sentir.
Neste texto , vou resumir alguns trechos muito interessantes de uma matéria da jornalista Talita Cícero sobre relacionamentos, entitulada “Não sabemos mais amar?”, publicada na revista “Filosofia – Ciência e Vida”.
No meio de tantas crises existenciais, o homem contemporâneo esqueceu de sua maior virtude: o amor.
Existem várias definições nos dicionários para a palavra amor: sentimento que impele as pessoas para o que lhes afigura belo, digno ou grandioso / Afeição, grande amizade, ligação espiritual / Carinho / Desejo sexual…etc. Mas o que significa este sentimento no mundo das idéias filosóficas? O que é amor para o filósofo e qual o verdadeiro significado deste sentimento para a nossa vida?
Amar está além das aparências, do corpo e da beleza exterior. Amar, para alguns filósofos, é buscar o que nos falta. Acabar com a carência da alma, procurar inquietar o que tanto alardeia: o vazio do espírito humano. É um sentimento evoluído, que somente pessoas evoluídas conseguem senti-lo. Longe da visão romãntica que conhecemos, amar não é precisar do outro porque simplesmente aprecia a companhia. Amar é necessitar da presença do outro, pois as almas se completam e sozinho o mundo não tem sentido. Professor da Universidade Católica de Santos e do Centro Universitário Monte Serrat e mestre em Lógica e Filosofia da Linguagem pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Fábio Cardoso Maimone, explica que, dentro dos temas da Filosofia, o amor é um dos mais importantes sentimentos. “Até mesmo na palavra Filosofia há relação com este sentimento: amor pela sabedoria. Sofia é sabedoria e Filia é um tipo de amor, que não é carnal, mas o amor da busca, do desejo; é o amor da inquietação”. O amor de amigo.
Então, o filósofo, enquanto praticante da Filosofia, é aquele que inquietamente busca por algo, que não se conforma e procura saber sempre mais. Assim nasce a Filosofia. É o amor pela sabedoria entendido como um desejo equilibrado por procurar conhecer mais, citando Platão, em “O banquete”. O pensador diz que o amor é a tónica do filósofo, que busca pelo conhecimento de uma maneira sensata, sem cair no desequilíbrio. “Pitágoras, que muito influenciou a obra de Platão, dizia que o perigo do amor está justamente na desmedida e no desequilíbrio”, conta Maimone, acrescentando que a falta de harmonia em relação ao amor acontece quando a pessoa gosta mais do objecto de desejo do que o próprio desejar. “O que mata qualquer relação é quando a pessoa se dedica ao relacionamento em busca de uma posse. É o ciúme possessivo nos dias de hoje”. dessa forma, o indivíduo não ama amar o outro, ele ama a “coisa outro”. Isso não é amor, pois amor não é posse.
… o verdadeiro amor para os seres humanos também é um sentimento de busca pelo que nos falta, sendo que esta lacuna pode ser preenchida por diversos tipos de objeto. Emocionalmente, amar é buscar no outro um alguém que supra nossas carências afetivas e espirituais. O diretor da escola de Filosofia Nova Acrópole de Santos (SP), Marcelo Augusto de Oliveira ressalta que, no ponto de vista dos filósofos, o amor legítimo busca por uma complementação. “Expresso por Platão, é um sentimento da alma quando ela sente que perdeu sua condição divina.”, explica.
Mas se o amor em si é um sentimento muitas vezes compreendido de maneira errônea pela sociedade, ainda mais mal interpretado é o ponto de vista da Platão a esse respeito. Para muito, amor platônico é aquele não alcançado, que fica apenas na vontade, longo do objeto de desejo, uma quimera. Oliveira explica que “na visão de Platão o verdadeiro é o amor da alma pelo conhecimento e pelo lado espiritual da vida, relacionado a uma lembrança. Segundo o pensador, o verdadeiro amor é um impulso de vida para a sabedoria e não necessariamente para uma pessoa”.
“Do ponto de vista da Filosofia, o amor é uma força, uma energia, que se manifesta na alma como um sentimento de lembrança. De algo que a alma já teve, mas perdeu”, destaca Oliveira, completando que o amor é uma espécie de carência nesse ponto de vista. Carência que não é representada por alguém chorando, mas sim pelo impulso de alguém que busca.
O professor Maimone também concorda que o amor platônico é mal interpretado atualmente. Contrariando o senso comum, que enxerga esse sentimento como algo sensível e intocável, “o amor platônico é aquele que não se fixa no transitório, no corpo, na matéria. Mas sim o que supera tudo isso”. Assim que se fixa no corpo, confundimos o amor com paixão. Só que a paixão acaba, enquanto o amor é eterno.
Uma paixão acaba com a morte do corpo, já aquilo que você realmente aspira e deseja, que é a beleza na alma, sempre vai existir. Dessa forma, a idéia de que o amor platônico é o irrealizável não está certa; ele apenas pensa em alguma coisa que supera o mundo terreno. “É o impulso da alma rumo a algo que transcende esse plano, a coisa física, que é somente a paixão – um dos estágios do amor, mas não o amar em si mesmo”, esclarece Maimone.
Outro julgamento errado é encarar o amor como um sentimento que fragiliza(…) Oliveira explica que, na realidade, “o verdadeiro amor é desenvolvido para que as pessoas vivam de uma maneira melhor, com justiça e amizades verdadeiras. É um sentimento possível somente para os fortes. Somente indivíduos com caráter formado, equilibrados, são os que realmente amam no sentido filosófico”.
Muitas vezes o amor é interpretado como uma espécie de desejo, quando na Filosofia este anseio está mais relacionado à paixão. “Esse apego não nos leva à virtude” justifica Oliveira. Confundimos o desejo com a vontade. O desejo tem a ver com os apegos, um desejo passional pelas coisas. A vontade é uma força da alma, que nos impulsiona a agir de uma forma boa.
Na Filosofia o amor nunca é o objeto, como explica Maimone. O amor é a busca, e somente ama quem carece. Citando Platão, o filósofo diz que “o amor é um pulso ascencional da alma rumo à sabedoria”. O amor é uma vontade de saber mais e não de ser mais.
O amor é um sentimento em relação à vida, de enxergar valores nas coisas além das aparências. É um sentimento idealístico, como uma visão espiritual da vida.
Amar no sentido filosófico do verbo não é impossível de se alcançar, mas sim um longo processo de aprendizado e evolução humana. “O grande problema é que vivemos num mundo que nos cria necessidades superficiais, as quais nos confundem diariamente” explica Oliveira. “Por isso os relacionamentos são tão difíceis; as pessoas não compartilham ideais, sonhos, pensamentos. É algo preso ao corpo, e não na alma”, ressalta o filósofo, completando que nesses casos as diferenças de personalidades ficam muito grandes. Quando existem ideais comuns, as diferenças de personalidade continuam existindo, mas você tem algo mais forte que ajuda a superar.
Nesse sentido, nunca um relacionamento foi tão marcante quanto o casamento de Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir. Ele, filósofo e literato, ela, literata e filósofa; os dois franceses. durante quarenta anos, o casal viveu um incompreendido casamento aberto, visto por ambos como um amor necessário. Conforme as palavras de Simone: “Entre nós, trata-se de um amor necessário: convém que conheçamos também amores contingentes”. Inspirados por Aristóteles, Sartre e Simone seguiam à risca as teses das diferentes formas de amar, e seu relacionamento permanece até hoje como único. Acusado por marxistas e cristãos, de manipulador da população e ateu, respectivamente, Sartre responde às críticas em seu livro “O Existencialismo é um Humanismo”, dizendo que o existencialista não crê na força da paixão e nem acedita que o amor é uma bela torrente devastadora. Maimone explica que de acordo com o filósofo nenhum sentimento pode ser uma desculpa para uma ação. Assim, não é tolerável matar por amor ou por ódio. Sartre acreditava que qualquer compromisso não estava em determinada religião, mas sim entre as pessoas. “O amor pra ele é o impulso que leva a agir, mas nunca desculpa para uma ação. Tudo o que o homem faz é resultado da escolha dele” esclarece Maimone. É impossível tentar fugir de uma escolha. E depois de escolhido, impossível de desfazer a ação. “Todo ato humano tem duas características: a imprevisibilidade e as irreversibilidades”, sendo assim, Sartre optou pelo relacionamento aberto, pois acreditava que se houvesse uma aliança não seria com Deus, mas sim com os homens.
Na época, em uma sociedade cristã e com valores presos aos mandamentos da Igreja Católica Apostólica Romana, como era a sociedade francesa e européia, foi como uma bomba basear um relacionamento sério em duas pessoas e não na Igreja Católica.
“As pessoas, ainda hoje, mais talvez do que no século XX, confundem liberdade com libertinagem. O existencialista carrega a liberdade humana, mas responde por tudo aquilo que faz”, critica Maimone, ressaltando ainda que “Na minha visão, o ser humano está muito preso à visão libertina. Quer fazer, mas não quer responder”. Hoje, as pessoas falam em ficar, morar junto sem casar, mas, na opinião do professor, talvez o relacionamento não seja levado tão a sério em termos de responsabilidade quanto foi com Sartre. “Creio que atualmente as pessoas estão assumindo esse relacionamento aberto no sentido de libertinagem e não com a mesma seriedade e consciência de que esta é uma escolha que influencia na vida do outro”.
Devido à complexidade deste sentimento, amar não é inato, ninguém nasce com a capacidade intensa e total de amar. É um processo gradativo. Dentro de sua crença realista e aristotélica, Fabio Marmone diz: “Se em cada momento da vida desejo coisas diferentes, então o amor é um processo gradual que pode ser evolutivo, ou que, de repente, você desaprende”, conclui o professor, e ainda ressalta “não acredito que a pessoa já nasça acabada, pronta para amar. Acho que é um processo, que vamos aprender por esforço, exercício e repetição”.
‘I LOVE YOU II’ Happening by Filipe Garcia Camilla O’Bo Pablo Col & guests at Museu de Serralves PT 2013 serralves