‘O nada que me dita aqui’
‘QUARENTENA – Memórias de um País Confinado’ –
‘O nada que me dita aqui’ por Filipe Garcia 2020
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Da minha varanda, vejo as árvores a serem fustigadas pelo vento forte. Não existe confinamento para o que nos inunda de gravidade. Digo: a terra. Novos silêncios e partículas muito frágeis começaram a nascer no sonambulismo que estava esquecido.
As cidades desoladas, esqueceram os pés em todas as ruas. Mas, e voltando ao vento, digo apenas, que nada estrangula a fúria da esperança. E nesta paciência que lambe paixões muito espessas, estremeço nas palavras que não contaminam.
Portanto, basta escrever.
Ricardo Novais
Quarentena – Memórias de um país confinado – Portugal
Autor: Vários Autores
Data de publicação: Agosto de 2020
Número de páginas: 994
ISBN: 978-989-52-8827-4
Colecção: Palavras Soltas
Idioma: PT
‘O nada que me dita aqui’
Sabemos pouco ou quase nada
da vida em que vivemos
pois assim foi desenhada
para dela nada sabermos.
Mas se assim o quiseres
podes sempre descobrir
no silêncio do desenho
o nada que me dita aqui.
Estou a escrever a versar
pois com versa quero fazer
neste mundo a desligar
no meio de tanto saber.
Ando a tentar ler a vontade
que no final é poesia
deste pranto de lamentos
que do mental o mundo urdia.
Percepto a tentar esclarecer
entre a mente e o meu corpo
que sabendo ser projecção
de lamento tenho pouco.
Escrevo a torto e a direito
porque as palavras não são minhas
eu apenas as aponto
porque não as adivinhas.
Já não sei a quantas ando
por estar já meio parado
só queria era contar
que alvíssara vai no adro.
Filipe Garcia 2020
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