Poesia Paradoxal

 

Este projecto propõe desenvolver a expressão criativa na área da poesia intuitiva e paradoxal de ‘forma’ a fomentar a expressão não obvia da linguagem nos participantes. A abordagem à palavra acontece no presente das suas pequenas percepções, despoletando o diluir da causalidade da pré ocupação, na (a)percepção da sincronicidade que se realiza na observação plena do percepto, ocupado no limiar da fronteira entre a vontade e o conhecimento do posicionamento expresso pela idade do autor.

Na linguagem, a palavra, coisa que se compõe de duas partes e se apresenta para se voltar a dividir. Aqui o texto é trabalhado de uma maneira apalavrada numa conquista rápida e de preferência intuitiva, sobre o virar da página. Não pretende ser mais do que um (r)escrever do que lá está, mas não se encontra perceptível, trabalho intuitivo que se apresenta sobre as possibilidades dele próprio, num infinito de variáveis de acção.

‘A escrita é um lugar neutro, onde vai parar o nosso sujeito, o branco e o negro onde se acaba por perder toda a identidade, começando pela própria identidade do corpo que escreve.’ Barthes (1987), La muerte del autor, p. 65.

Me é familiar.
Continuar a tratar o assombro.

Desassossego recuado
Mito brilhante que procria mistério
A vontade rubra o sopro incerto
Desembrulha-se a infância no firmamento
Segredo súbito nevoentos desencantos
Calor brando área alada
Alegre inconsciência nega o abstracto
A ilusão de ondas passadas
Vontades no movimento encantado
Infinita luz boiando no meu olhar
Luar e sol no regaço da vida
O natural é livre.

Raios estéticamente rasgados
um escorço profundo
malogrado conscientemente
através do seu pensamento
naturalmente considerado
o ungido louvor legaste
sobre os desertos espaços
em cachões meditando
nas horas do tronco vida
onde medraram perfumado
orvalho negro da luz
que ignoras lentamente
no seio sobre a chaga
no ar crente daquela
única voz em silêncio.

Descem sobre nós
o momento que vais fazer uma coisa difícil
flores de deus
Deus, Deus, Deus
o conflito
o catolicismo é natureza, crença,
limitação pior que arte
a religião da consciência.

Espantava manhãs e noites seis mil vezes, o mundo permite-se a zero.
A sua verdadeira muralha sem batalha.
Agressões à lupa tão pouco lhe interessa.
Espantemos durante um tempo furtivo servir esse futuro bíblico, o duvidoso labirinto para a execução (execução de uma arquitectura sem forma nem cor). Ignoro o labor dos números: consumirão a curvatura – obedeci para não fazer barulho – chicoteei o cavalo como é de calcular . sentes algarismos – a dispersão do sonho a nossos pés. Vejo a moldura nas grades das tuas palavras.
Disciplos do mestre! Queria falar: posso olhar com horror os seres que engendram para medir a sua terra, paredes e portas inúteis.

Seja por uma mulher seja por um rapaz
como a vida
são um mal digno de se gozar.
Tal é a triste confiança no futuro.

Arame
Como amor ao fogo na caixa ou fugir

Eis que da terra sem o segredo do ar
o inesperado é a figura da alegria
cai um rio à sombra como a seiva.

Branco e sangue
o meu silêncio
sol atado
olhar na lentidão
parede de água sua
pele dura
todas as aves.

A vida na quem eu sou
Fim, dobro os joelhos!?
Na chama, alma Menino de rua
Toda a espécie
Da partida
Miragem.

Corpo azul
animal cósmico
corpos ocos
não temos nome
Sem queixumes
diante as máquinas
O amargo pão
lata de óleo
nada secou
Do teu corpo
das nuvens
um grito

Encontrarte em Amares Poesia Paradoxal Curadoria por Filipe Garcia  Com Ana Allen | Ana Marques | Artur Paulino | Artur Ruivo | Bruno.Inácio | Carolina Fonseca | Celine Machado | Filipe Garcia | Henrique da Luz | Horácio Frutuoso | Ícaro | João Paulo Marques de Lima | José António da Costa | José Cercas (Delfim) | José Pontilho | Lázaro Pinto da Silva | Mariana Bacelar | Marina Graça | Matilde | Miguel Barbosa | Pascal Ferreira | Rute Rosas | Susana Machado | Vítor Israel. arquivo/filipe-garcia encontrarte.pt